Vala comum em Bergen-Belsen
Bergen-Belsen, um campo da morte
Bergen-Belsen, um campo da morte
Ainda me lembro perfeitamente do dia em que fomos libertados de Bergen-Belsen, exactamente há cinquenta anos (...). Lembro-me de beijar as mãos dos soldados britânicos, chorando de alegria: tinhamos vencido, tinhamos finalmente vencido - e eu sobrevivida a Auschwitz antes de vir para Belsen. Lembro-me de implorar algo para comer e beber - a maioria dos cinquenta e cinco homens que nos guardavam tinham simplesmente fugido e há seis dias que não nos davam absolutamente nada: éramos 60 mil cadáveres vivos, vindos de todos os lados, cercando aqueles soldados incrédulos e compassivos, rodeados por 30 mil cadáveres por enterrar, montes de corpos empilhados de qualquer maneira como se fossem lenha.
Os americanos e os ingleses ficaram chocados com a nossa fome desesperada, mas imediatamente abriram os depósitos de comida dos alemães e as cozinhas dos militares aliados e cozeram pão. Nessa noite, distribuiram a toda a gente uma lata de meio quilo de banha pura de porco, dos alemães, e um pão acabado de cozer.
Infelizmente, cerca de dez mil prisioneiros morreram ainda, devido a esta súbita mudança alimentar.
No dia seguinte, os soldados americanos trouxeram depósitos de água equipados com chuveiros. Lavámo-nos e ensaboámo-nos - e vi então que os soldados britânicos nos olhavam com os olhos cheios de lágrimas. De repente percebi. Acabava de ver nos olhos deles que já não éramos um grupo de mulheres jovens, estavamos de facto transformadas nos mortos-vivos sub-humanos que os nossos perseguidores queriam que fôssemos.
Memória de Eva Roden, que tinha 17 anos quando foi libertada (in Expresso, 6 de Maio de 1995)